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Quatro entre 10 diagnósticos de câncer de mama foram feitos antes dos 50 anos, mostra estudo

6 de outubro de 2016

A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda o exame a partir dos 40 anos

Embora o Ministério da Saúde recomende a realização periódica da mamografia somente a partir dos 50 anos, um novo estudo feito pelo A.C. Camargo Cancer Center, hospital oncológico de São Paulo, traz de volta a polêmica sobre a idade a partir da qual as mulheres devem fazer o exame capaz de detectar o câncer de mama.

Levantamento do hospital com 4.527 pacientes mostra que 40% das mulheres que receberam o diagnóstico da doença entre os anos de 2000 e 2010 no centro médico tinham menos de 50 anos e não descobririam o tumor se tivessem seguido a orientação do ministério. Do total de pacientes acompanhadas, 11,4% descobriram a doença até os 39 anos e outras 28,7%, entre os 40 e os 49 anos. A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda o exame a partir dos 40 anos.

– Não podemos dizer que os dados do A.C. Camargo refletem toda a realidade brasileira, até porque somos um centro de referência em oncologia e isso leva a mais diagnósticos precoces. No entanto, esse estudo mostra que vale a pena investir na mamografia mais cedo. Sabemos que a curva de incidência da doença começa a aumentar a partir dos 40 anos e, quanto mais cedo descoberto o tumor, maior a chance de cura –, diz Fabiana Baroni Makdissi, cirurgiã oncologista e diretora de Mastologia do A.C. Camargo.

Os dados do levantamento provam o quanto o diagnóstico precoce é decisivo no sucesso do tratamento. Do total de mulheres que descobriram a doença no estágio 1, 96,1% estavam vivas após cinco anos. No grau 2, eram 89,2%. No estágio 3, o índice foi de 71,6%, número que caiu para 30,3% no estágio 4, o mais avançado.

Sinal

Diagnosticada com câncer de mama aos 37 anos, a supervisora de vendas Patrícia Rosa Moreira, hoje com 40, atribui à sorte a realização da mamografia que a fez descobrir a doença.

– Foi por acaso. Eu fui doar sangue e deu uma alteração nas plaquetas. Resolvi fazer um check-up e pedi para a médica uma guia para fazer mamografia. Ela não queria dar de jeito nenhum, disse que eu ainda não estava na idade, mas eu bati o pé e ela deu –, conta.

O exame feito em 2014 detectou o tumor no grau 2. A supervisora teve de retirar a mama esquerda, fazer 16 sessões de quimioterapia e 25 de radioterapia.

– O câncer já estava com 4 centímetros e eu não tinha nenhum sintoma, ele não era palpável. Nunca descobriria sem um exame. Se eu tivesse feito a mamografia aos 50 anos, ele já estaria espalhado pelo corpo.

O tratamento terminou em dezembro de 2015 e, hoje, Patrícia aguarda pela cirurgia de reconstrução mamária, prevista para dezembro ou janeiro.

– Enquanto eu estava no hospital, conheci muitas moças de menos de 30 anos com a doença. Acho errado passarem a mamografia só a partir dos 50 anos.

O Ministério da Saúde diz que segue a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), de realização da mamografia para fins de rastreamento entre os 50 e 69 anos, porque “essa é a faixa etária com maior efetividade na prevenção e que possui evidência científica de impacto na mortalidade”.

A pasta diz ainda que orienta os médicos a solicitarem o exame antes às pacientes que tenham histórico da doença na família, especialmente se uma parente de primeiro grau tenha recebido o diagnóstico antes dos 50 anos. Nesses casos, a recomendação é de que as mulheres passem por avaliação médica a partir dos 35 anos para que sejam definidos os exames necessários. Isso porque, no caso de mulheres mais jovens, com estrutura mamária diferente por causa da idade, nem sempre a mamografia é suficiente – podem ser solicitados ultrassom ou ressonância magnética.

Polêmica

Há quem critique a realização de mais mamografias para fins de rastreamento por causa do risco de resultado falso positivo – quando o exame inicial aponta a presença de uma lesão que não se confirma maligna em exames adicionais.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade, a recomendação para realização da mamografia periodicamente não resultou em queda da taxa de mortalidade por câncer de mama. Além disso, diz a entidade, o falso positivo pode causar danos às mulheres, como ansiedade, estresse e procedimentos desnecessários.

A oncologista do A.C. Camargo afirma que os benefícios do rastreamento são maiores do que os malefícios.

– Por mais que, em alguns casos, a mamografia aponte a suspeita e ela seja descartada depois, em outros casos, o exame vai possibilitar que a mulher descubra mais cedo e tenha mais chances de cura–, afirma Fabiana.

 

Com informações de ZH e Estadão

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