Pacientes com câncer do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), em Bonsucesso, zona norte do Rio de Janeiro, têm dificuldade de acesso à medicamentos e ao tratamento. Nesta semana, pacientes entraram em contato com a Agência Brasil para relatar a falta dos fármacos irinotecano e Fluoracil na unidade e o adiamento das sessões de quimioterapia. Representantes da Defensoria Pública da União e do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro estiveram no hospital nesta semana para avaliar a situação. O problema tem sido recorrente, segundo o filho de uma paciente que preferiu não se identificar para não expor a mãe.
“No início de 2016 houve falta de Oxaliplatina. Após algum tempo de tratamento incompleto, outros medicamentos foram receitados. O tratamento foi retomado mas interrompido em novembro, o hospital ficou sem Irinotecano e Fluoracil”, contou ele. “Somente este mês nos chamaram para recomeçar o tratamento após esta pausa de três meses. Depois de apenas duas sessões, que foram feitas mesmo sem a chegada do Fluoracil, o tratamento está suspenso pela falta do Irinotecano,” disse.
Os pacientes registram reclamação na Ouvidoria do hospital, mas nunca há uma previsão da chegada dos remédios. “Sem a quimioterapia o câncer pode avançar e o tumor voltar a crescer. Isso mexe com a sobrevida do paciente e com a chance de cura”, disse o filho da paciente. “Soubemos que médicos estão deixando o hospital, deduzimos ser pela dificuldade em trabalhar sem recursos. A equipe de enfermagem é muito atenciosa e gentil. O oncologista que nos atende é um profissional extremamente qualificado e dedicado. Torcemos para que não chegue em seu limite e opte por trabalhar em outro hospital que tenha melhores condições de trabalho. Os pacientes do SUS mais uma vez sairiam perdendo.”
Uma nova reunião foi marcada para o dia 9 de março, após o recesso de carnaval, com as unidades no Rio de Janeiro que prestam serviços de oncologia para discutir a crise no setor, e quando será dado um prazo curto para encontrarem uma solução.
“Fizemos uma pesquisa e visitamos 19 hospitais que têm oncologia e a situação é catastrófica”, disse o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro ( Cremerj) , Nelson Nahon. “O tempo de espera dos pacientes que conseguem entrar no sistema é dez meses a um ano entre o diagnóstico e o tratamento”. A lei determina que o início do tratamento de quimioterapia não ultrapasse 60 dias.
O presidente do corpo clínico, Baltazar Fernandes, informou ao Cremerj que a crise já foi anunciada há tempos, e agora chegou ao total déficit de insumos, equipamentos e profissionais. “Nossos médicos estão adoecendo por não terem condições adequadas de atender a população”, contou Baltazar.
Em nota, o hospital informou que o atendimento oncológico no ano passado aumentou em quase 20%, incluindo consultas de pacientes com câncer e sessões de quimioterapia, em relação ao ano anterior. A instituição garante que nenhum serviço foi interrompido e que a unidade fez mais de 11,4 mil atendimentos oncológicos, além dos atendimentos de emergência aos pacientes com câncer, em 2016.
Pela localização, a assessoria do hospital afirmou que pacientes da zona norte da cidade e da Baixada Fluminense têm recorrido de forma mais intensa à unidade por não encontrar atendimento em outras unidades. “A emergência do hospital está funcionando com 83% além da capacidade e, mesmo assim, atendeu a todos os pacientes”, diz a nota do HFB.
Segundo a unidade, 40% dos pacientes na emergência são pessoas com diagnóstico ou suspeita de câncer. Entre todos os pacientes na emergência, 44% são provenientes de outras cidades, em especial da Baixada Fluminense.
O Ministério da Saúde informou que a rede de seis hospitais no Rio de Janeiro, além do Instituto Nacional de Câncer (Inca), está redefinindo o perfil assistencial e cirúrgico para ampliar os serviços oncológicos em todas as unidades, devido à demanda crescente da capital e demais municípios do estado. Em 2016, mais de 90 mil atendimentos oncológicos foram feitos nesses hospitais, com 10,8 mil a mais que no ano anterior.
Segundo o Ministério da Saúde, a pasta repassou, em 2016, ao estado para o atendimento de média e alta complexidade – que engloba internações e tratamentos de câncer, por exemplo – R$ 3,99 bilhões ao estado, responsável por este tipo de serviço, e R$ 3,09 bilhões ao município, gestor pleno da saúde no Rio.