Tetraplégicas têm dificuldades para realizar exames ginecológicos ou mamográficos preventivos sem adaptação ou local adequado.
O câncer mata todos os anos 190 mil pessoas no Brasil. Especialistas consideram que a prevenção e o diagnóstico precoce são a melhor maneira de reduzir este índice.
Entre os 600 mil novos casos detectados todos os anos, ocupam lugar de destaque o câncer de pele, recordista de incidência em homens e mulheres; seguido de próstata, para os homens; e mama, para as mulheres – doenças com boas chances de cura se detectadas cedo.
Uma das maneiras de se fazer isso é realizar exames periódicos, o que representa uma dificuldade a mais para quem tem algum tipo de deficiência física.
Por isso, a Câmara aprovou em 2016 um projeto (PL 3595/12) que garante o acesso de mulheres com deficiência a equipamentos adaptados para suas condições físicas nos exames de prevenção, diagnóstico e tratamento dos cânceres de mama e de colo de útero no Sistema Único de Saúde, o SUS.
Isso porque, em algumas situações, como casos de pessoas tetraplégicas, há dificuldades para a realização de exames ginecológicos ou mamográficos se não houver adaptação ou local adequado.
O deputado Antônio Jácome, do PTN do Rio Grande do Norte, é médico e presidente da Frente Parlamentar Mista de Combate ao Câncer. Segundo ele, o projeto garante que os hospitais se preparem para atender essas pessoas.
“Se uma pessoa sem deficiência já tem dificuldade, imagine aqueles portadores de algum tipo de deficiência. O acesso, o tratamento, o próprio tabu que ainda existe dificultam muito a vida dessas pessoas.”
O médico Raphael Haikel Júnior, diretor do Hospital do Câncer de Barretos, em São Paulo, elogiou a proposta e disse que os hospitais terão que treinar as pessoas encarregadas de operar os aparelhos para garantir a acessibilidade dos pacientes.
“Como exemplo: uma cadeirante. Ela quer fazer um exame de mamografia, os aparelhos têm uma adaptação para a realização desse exame, e o mais importante: nós temos que ter um treinamento das colaboradoras, das pessoas que manuseiam aquele equipamento. Com isso, nós vamos dar acessibilidade a todas as mulheres, no caso da prevenção de câncer de mama, também no caso da prevenção do câncer de colo de útero. Às vezes, é até um pouco mais complicado. Tem uma possibilidade, sim. Essa mulher tem que fazer porque a prevenção é nossa grande arma contra o câncer, seja de mama, de colo de útero e tantos outros”.
Outro médico, Carlos Alberto Coimbra, diretor do Hospital do Câncer de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, também defendeu a garantia de acessibilidade dos pacientes aos equipamentos, mas disse que isso não é suficiente.
Ele apontou o baixo financiamento dos exames do SUS como um dos fatores que dificultam o acesso aos exames.
“Nós que trabalhamos na ponta, atendendo esses pacientes, hoje temos muitas dificuldades históricas, a própria correção da tabela SUS, a alta complexidade , que não tem nenhum tipo de incentivo do Ministério da Saúde, dificultam nosso atendimento. Para se ter uma ideia, exames como cintilografia, ressonância, que são exames extremamente importantes para o tratamento da oncologia, os hospitais hoje recebem um quinto, ou um quarto, do que realmente esses exames custam”.
O projeto que garante o acesso de mulheres com deficiências físicas a exames para detectar câncer de mama e de colo de útero foi sancionado sem vetos e virou lei (Lei 13.362/16).