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Brasil tem menos da metade dos aparelhos de radioterapia que deveria

21 de fevereiro de 2017

Além da falta dos equipamentos recomendados pela OMS e da péssima distribuição pelo país, algumas estão quebradas há anos.

 

Os hospitais públicos brasileiros têm menos da metade dos aparelhos de radioterapia recomendados pela Organização Mundial da Saúde para atender os pacientes com câncer. Além da falta de equipamento e da péssima distribuição pela país, algumas estão quebradas há anos.

Cleia achava que o caroço pequeno que sentiu na mama, durante o autoexame, não era câncer. Mas era. Em um ano o tumor se espalhou e ela passou por cirurgia, quimioterapia e, agora, espera pela radioterapia. Depois de três meses tentando, ela só conseguiu vaga para maio.

“Está demorando, está aqui marcado no papel que a primeira consulta vai ser no dia 19/05/2017”, disse a dona de casa Cleia Aparecida de Jesus.

Ela não é a única na fila. Em Belo Horizonte, são mais de 300 pacientes esperando para fazer radioterapia pelo SUS. Dos 12 aparelhos credenciados na capital, sete estão parados.

 

Produtor: – A radioterapia tá funcionando?

Atendente do hospital: – Não.

Produtor: – Não tá funcionando… Tá parada?

Atendente do hospital: – Tá.

Produtor: – Tem muito tempo?

Atendente do hospital: – Tem 3 anos.

 

Em outro hospital, nosso produtor mostra que a situação se repete.

Produtor: – A radioterapia tá funcionando?

Atendente do hospital: – Não. A radioterapia não está funcionando.

Produtor: – Não tá funcionando?

Atendente do hospital: – Tem uma previsão, talvez, pra março.

Produtor: – Pra março?

Atendente do hospital: – É. Não tem certeza. É só uma previsão.

 

A radioterapia é um tratamento contra o câncer que destrói as células de um tumor, impedindo que elas se multipliquem. Cerca de 60% dos pacientes com câncer precisam desse tipo de tratamento. Quando um equipamento como este quebra, ele deixa de atender cerca 50 pessoas por mês. E isso preocupa os médicos.

“Várias vezes é um tratamento exclusivo, é o único tratamento. Por exemplo, em câncer de próstata, a gente usa geralmente a radioterapia como o único tratamento para o tumor”, explicou o diretor da Sociedade Brasileira de Radioterapia, Marcos Castilho.

Em todo o país, 18 aparelhos de radioterapia credenciados ao SUS estão parados porque quebraram, estão em manutenção ou nunca foram instalados, reduzindo ainda mais a oferta que está longe do ideal.

A Organização Mundial da Saúde recomenda que para cada 300 mil habitantes uma máquina esteja disponível. Atualmente, existem 269 aparelhos na rede pública.

Mas seria necessário o dobro disso para atender os pacientes com câncer, já que a fila não para de crescer.

“São mais de 100 mil pessoas na fila para fazer procedimento radioterápico, principalmente no Norte e Nordeste”, disse Castinaldo Santos, da Federação Nacional dos Estabelecimentos de Serviço de Saúde.

O Norte do país é a região com o menor número de aparelhos na rede pública: são apenas nove e nem todos os estados tem equipamento de radioterapia. Em Roraima e no Amapá, os pacientes precisam se virar para fazer o tratamento.

A Dona Maria da Paz teve que viajar de Boa Vista para Manaus, onde fez 32 sessões de radioterapia. Só no ano passado, 160 pacientes de Roraima tiveram que se tratar em outro estado.

Como em Roraima não tem aparelho de radioterapia, cada paciente que precisa do tratamento recebe uma diária de quase R$ 90, durante 15 dias, para cobrir os gastos da viagem. A ajuda de custo é dividida entre o estado e a União. Mas os pacientes dizem que o dinheiro não é suficiente e ainda têm o desgaste de se tratar longe de casa.

“Só a gente deixar o lar da gente para ficar em um lugar diferente que a gente não tinha conhecimento, que eu não tinha conhecimento, assim, em Manaus, para mim foi muito difícil. A gente só sai porque, infelizmente, a gente precisa”, contou a dona de casa Maria da Paz.

O Tocantins tinha aparelho de radioterapia até 2014. A máquina quebrou e uma nova foi comprada, mas nunca funcionou. Está encaixotada há mais de dois anos. A Secretaria estadual da Saúde diz que falta construir uma sala apropriada no Hospital Regional de Araguaína, norte do estado. Mais de 70 pacientes dependem do aparelho e, sem poder pagar o tratamento, muitos deles acabam indo para o Maranhão. São três horas e meia de viagem.

“É cansativo, né? Se tivesse lá era bem melhor, né?”, disse um paciente. Para ampliar a oferta de radioterapia, o Ministério da Saúde lançou um plano em 2012 que previa a instalação de até 80 aparelhos em todo o país. Mas até agora apenas dois foram instalados. O ministério diz que mais 18 aparelhos devem ser entregues ainda este ano.

“O Brasil é um país enorme, é um país muito grande, em que o interior ainda é muito desassistido, e a principal finalidade do plano é exatamente dar cobertura a essa desassistência, a esses vazios assistenciais”, afirmou a diretora de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, Inez Gadelha.

A Secretaria de Saúde do Tocantins informou que agora começou a construir a sala onde vai ficar o aparelho e que ele deve começar a funcionar em julho.

A Secretaria de Roraima disse que depende dos repasses do Ministério da Saúde para começar o serviço de radioterapia.

O governo de Minas Gerais informou que o tratamento de radioterapia para pacientes do Hospital Alberto Cavalcanti, mostrado na reportagem, é oferecido em outros hospitais. E a Santa Casa informou que a previsão é que o aparelho seja consertado até a segunda quinzena de março.

 

Fonte: Bom Dia Brasil, 21/02/2017

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